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(1905 - 1983)
Escritor, novelista, ensaísta, jornalista, ativista político e filósofo social judeu húngaro (naturalizado inglês). Nasceu a 05 de Setembro de 1905, em Budapeste, Hungria. Morreu a 01 de Marco de 1983, em Londres, Inglaterra.
Quando jovem, logo que iniciaram as perseguições antissemitas do regime do almirante Miklóz Horty (1868-1957) na Hungria, partiu para a Áustria com toda a família.
Estudou ciências na Universidade de Viena porém, interessado em causas políticas sionistas, viajou à Palestina, para participar do que viria, posteriomente, ser o Estado de Israel, em 1948.
Iniciou-se no jornalismo, sendo correspondente do Vossische Zeitung no Oriente Médio e em Paris (1926-30) e depois editor do Ullstein, de Berlin, quando participou do célebre voo em dirigível sobre o Ártico. Ingressou no Partido Comunista alemão em 1932 e viajou para a China, Turcomenistão, Rússia, Egito, Palestina, Zurique, Paris e Londres. Como correspondente do jornal inglês News Chronicle e um espírito aventureiro, cobriu a Guerra Civil espanhola e passou a exercer atividades ditas subversivas, sendo preso durante a tomada de Málaga como espião e condenado à morte pelos fascistas de Francisco Franco (1892-1975), acabando salvo por intervenção do governo britânico e escrevendo depois seu Spanish Testament (1938) sobre o amargo período.
Em 1939, abandonou o Partido e logo foi preso pelos nazistas como comunista. Após longa trajetória por prisões e campos de concentração, estabeleceu-se na Inglaterra, tornando-se cidadão britânico e passando a escrever em língua inglesa.
Foi casado três vezes; a primeira com Dorothy Ascher, uma companheira também comunista ativista; a segunda com Mamaine Paget e, por último, com Chyntia Jeffries, em 1965, com quem teve uma filha.
Em 1968, recebeu o prêmio Sonning, da Universidade de Copenhague. Mais conhecido pela novela Darkness at Noon (O Zero e o Infinito) de 1940, granjeou inimizades notórias, como a de Jean Paul Sartre (1905-1980) e Albert Camus (1913-1960), pela crítica severa que fez ao regime stalinista.
Autor de uma vasta obra de reflexão sobre diversos assuntos - sobretudo a ciência moderna e a Psicologia - publicou:
- Spanish Testament (1938)
- The Gladiators (1940)
- O Zero e o Infinito - no original Sonnenfinsternis (1940) - publicado em trinta idiomas.
- Scum of the Earth (1941)
- Arrival and Departure (1943)
- The Yogi and the Commissar (1945)
- Twilight Bar (1945)
- Thieves in the Night (1946)
- Insight and Outlook (1948)
- The Invisible Writing (1954)
- The Trail of the Dinossaur (1955)
- Reflections on Hanging (1956)
- The Sleepwalkers (1959)
- The Watershed (1959)
- The Lotus and the Robot (1960)
- Suicide of a Nation? (1963)
- The Act of Creation (1964)
- The Ghost in the Machine (1967)
- The Thirteenth Tribe (1976)
- Bricks to Babel (1981)
- Stranger on the Square (1984)
Em português:
- Publicadas em português
- Tempo de Quimeras (Editora Europa-América)
- Ladrões na Noite (Germinal Editora)
- Chegada e Partida (Germinal Editora)
- O Zero e o Infinito (Editora Globo - Brasil e Europa-América - Portugal)
- O Homem e o Universo (Ibrasa)
- O Fantasma da Máquina (Zahar Editores)
- Os khazares - a 13a. tribo (Ediouro)
- Os gladiadores - a saga de Espártaco (Relume-Dumara)
Sofrendo do mal de Parkinson, só conseguia escrever com muita dificuldade. Em 1980 descobriu-se com leucemia linfocítica crônica. Foi vice-presidente da EXIT (Sociedade pelo Direito a uma Morte Digna), para qual escreveu Guia para a Autolibertação, um panfleto sobre suicídio, onde descreve o casos em que é a favor ou contra, assim como o melhor modo de fazê-lo. Em 1983 deu seu cão de estimação, trancou-se em sua elegante casa londrina de Knightsbrige e suicidou-se (junto com a mulher, Cynthia), ingerindo grandes doses de barbitúricos com álcool. Seus corpos foram descobertos na manhã de 03 de Março, já mortos há mais de trinta e seis horas.
Koestler mais de uma vez chegou a declarar que estava com medo, não de morrer, mas do processo do morrer. Entre seus amigos próximos o seu suicídio não foi uma grande surpresa. Pouco antes de cometer suicídio, seu médico encontrou um inchaço perto de sua virilha que indicava a metástase do câncer.
Carta de suicídio de Koestler:
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A quem possa interessar.
O objetivo desta nota é para torná-lo inequivocamente claro que tenho a intenção de cometer suicídio tomando uma overdose de drogas sem o conhecimento ou ajuda de qualquer outra pessoa. As drogas foram legalmente obtidas e acumuladas ao longo de um período considerável.
Tentar cometer suicídio é um jogo cujo resultado será conhecido pelo jogador somente se a tentativa falhar, mas não se for bem sucedido. Caso esta tentativa falhar e eu sobreviver em um estado deficiência física ou mental, em que já não posso controlar o que é feito para mim, ou comunicar meus desejos, solicito que me seja permitido morrer na minha própria casa e não ser ressuscitado ou mantido vivo por meios artificiais. Peço ainda que a minha mulher, ou um médico, ou qualquer amigo presente, deve invocar habeas corpus contra qualquer tentativa de me remover forçosamente da minha casa para o hospital.
Minhas razões para tomar a decisão de pôr fim à minha vida são simples e convincentes: a doença de Parkinson e a leucemia (CCI) estão me matando lentamente. Mantive a ultima um segredo até mesmo de amigos íntimos para salvá-los aflição. Depois de um declínio físico mais ou menos constante ao longo dos últimos anos, o processo chegou agora a um estado agudo com complicações adicionais que tornam aconselhável procurar autolibertação agora, antes de me tornar incapaz de tomar as providências necessárias.
Eu desejo que meus amigos saibam que eu estou deixando a sua companhia em um quadro de paz de espírito, com algumas esperanças tímidas para uma "pós-vida", para além devidos limites de espaço, tempo e matéria e além dos limites da nossa compreensão. Este "sentimento oceânico" muitas vezes me sustentou nos momentos difíceis, e fá-lo agora, enquanto estou aqui escrevendo.
O que no entanto torna difícil de tomar este passo final é o reflexo da dor que provocará em meus amigos sobreviventes, acima de tudo, minha esposa Cynthia. É a ela que eu devo a relativa paz e felicidade que eu gozei no último período da minha vida - e como nunca antes.
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A nota acima datada de Junho de 1982. A seguir apareceu o seguinte:
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Uma vez que o acima foi escrito em Junho de 1982, minha esposa decidiu que, após trinta e quatro anos de trabalho conjunto, que ela não poderia enfrentar a vida depois da minha morte.
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Mais abaixo na página apareceu a nota de despedida da própria Cynthia:
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Eu temo tanto a morte quanto o ato de morrer que está à frente de nós. Eu teria gostado de terminar a minha conta no trabalho para o Arthur - uma história que começou quando nossos caminhos aconteceram de se cruzar em 1949. No entanto, eu não posso viver sem o Arthur, apesar de certos recursos internos. Duplo suicídio nunca me atraiu, mas as doenças incuráveis de Arthur chegaram a um estágio que não há mais nada a fazer.
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O funeral ocorreu no Mortlake Crematorium, no sul de Londres, em 11 de Março.
Entrevista em vídeo de Koestler:
Parte 1
Parte 2
Fotos:
Monumento em memória de Arthur Koestler em Budapeste.
Koestler com sua segunda esposa Mamaine Paget. Robie e Flannery.
Caricatura de Koestler.
O ilusionista Uri Geller ao lado de Koestler.
Langston Hugues e Koestler (à direita) em uma região soviética
na Ásia. 1932.
na Ásia. 1932.
Cynthia, Koestler e à esquerda o seu cão.
O casal e seu cão.
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