Florbela Espanca

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(Florbela de Alma da Conceição Espanca 1895 - 1930)



Poeta portuguesa cujo nome foi inspirado na obra de Sade (1740 - 1814) (Les Journées de Florbelle ou la nature dévoilée). Nasceu a 8 de dezembro de 1895, em Vila Viçosa, Alentejo (Portugal). Morreu a 8 de dezembro de 1930, em Matosinhos.

Realizou seus estudos de Letras em Évora até 1917 e em 1919 matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Colaborou no jornal Notícias de Évora e juntamente com Irene Lisboa (1892 - 1958) foi precursora do movimento de emancipação feminina português. Apesar da rigidez católica e das leis de Portugal, foi casada duas vezes e sua obra possui um acento erótico incomum aos padrões precedentes à emancipação feminina lusitana. 

Temperamento nostálgico e infinitamente triste, pelo resto da vida suportou a dor da morte do irmão, Apeles Demóstenes da Rocha Espanca, ocorrida em junho de 1927 num acidente aéreo, quando ela então começou a consumir estupefacientes.

Autora de Trocando olhares (1915-17); Livro de mágoas (1919); Livro de Sóror Saudade (1923); Charneca em Flor; Reliquiae (póstumos, 1931) e Esparsa seleta (1917 - 1930) que trouxeram sua obra à fama, anexada a seus movimentos feministas libertários antes e durante o salazarismo (1932 - 1970).

Após uma sucessão de crises depressivas por diversas razões (matrimônios fracassados, morte do irmão, saúde frágil) passou a ficar cada vez mais dependente de Veronal, droga que tomava para dormir. Apeles, o irmão com quem mantinha uma relação quase incestuosa, morrera há três anos e a insônia a abatia ainda mais.

Ao completar 35 anos, na noite de seu aniversário não suportou mais e se suicidou. Ela já havia tentado o suicídio duas vezes poucos meses antes de lançar o seu Charneca em flor. O meio que encontrou para a morte ainda tem sido debatido entre seus biógrafos. Há quem ateste overdose de barbitúricos, outros que deixou-se morrer pelo edema pulmonar que a acometia; o certo é que pediu para não ser incomodada em seu quarto até o dia seguinte, quando foi encontrada morta.

Pouco antes de falecer, Florbela disse a sua amiga de infância (Milburges Ferreira): "Se passar do dia dos meus anos, morrerei de velha". Talvez o anúncio de que resolveria por fim aos seus sofrimentos ainda naquela noite. 

Postumamente, foram publicados sua correspondência e os livros de contos As máscaras do destino e Dominó.

Em 2012 estreou um filme sobre a vida da poetisa,"Florbela", de Vicente Alves. 


Algumas poesias de Florbela Espanca:


Tédio


Passo pálida e triste. Oiço dizer
"Que branca que ela é! Parece morta!"
E eu que vou sonhando, vaga, absorta,
Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...

Que diga o mundo e a gente o que quiser!
-O que é que isso me faz?... o que me importa?...
O frio que trago dentro gela e corta
Tudo que é sonho e graça na mulher!

O que é que isso me importa?! Essa tristeza
É menos dor intensa que frieza,
É um tédio profundo de viver!

E é tudo sempre o mesmo,eternamente...
O mesmo lago plácido, dormente dias,
E os dias, sempre os mesmos, a correr...

___


A maior Tortura

                                           A um grande poeta de Portugal


Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia ...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite !

E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia ! ...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite !

Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado !

Mas a minha tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor ! ...

___


Súplica


Olha pra mim, amor, olha pra mim;
Meus olhos andam doidos por te olhar!
Cega-me com o brilho de teus olhos
Que cega ando eu há muito por te amar.

O meu colo é arrninho imaculado
Duma brancura casta que entontece;
Tua linda cabeça loira e bela
Deita em meu colo, deita e adormece!

Tenho um manto real de negras trevas
Feito de fios brilhantes d'astros belos
Pisa o manto real de negras trevas
Faz alcatifa, oh faz, de meus cabelos!

Os meus braços são brancos como o linho
Quando os cerro de leve, docemente...
Oh! Deixa-me prender-te e enlear-te
Nessa cadeia assim eternamente! ...

Vem para mim, amor... Ai não desprezes
A minha adoração de escrava louca!
Só te peço que deixes exalar
Meu último suspiro na tua boca!...

___


O meu impossível


Minh'alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!

Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito. É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...

Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me compreenderam!... Vão e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto...

Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!...

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Mais alto

Mais alto, sim! mais alto, mais além
Do sonho, onde morar a dor da vida,
Até sair de mim! Ser a Perdida,
A que se não encontra! Aquela a quem

O mundo não conhece por Alguém!
Ser orgulho, ser àguia na subida,
Até chegar a ser, entontecida,
Aquela que sonhou o meu desdém!

Mais alto, sim! Mais alto! A intangível!
Turris Ebúrnea erguida nos espaços,
À rutilante luz dum impossível!

Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber
mal da vida dentro dos meus braços,
Dos meus divinos braços de Mulher!
 
(in Antologia de Poetas Alentejanos)


Galeria de fotos:

Estátua em memória de Florbela.

 Florbela na infância.





Florbela na adolescência. 


Casa em que Florbela nasceu em Vila Viçosa. 

Foto mais atual da antiga casa da Florbela. 

Florbela na infância ao lado de seu irmão Apeles Demóstenes.



Estátua em memória da poetisa.

Sepulcro da poetisa. 

Admiradores de Florbela.

Pôster do filme sobre a vida de Florbela Espanca.


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