Candelabro aceso para Vladimir Vladimirovich Maiakovski
(1893 - 1930)
Poeta, dramaturgo e revolucionário russo. Nasceu a 19 de julho de 1893, em Bagdadi, na Geórgia. Morreu a 4 de abril de 1930, em Moscou.
Filho de um nobre empobrecido que trabalhava como guarda-florestal, desde pequeno manifestara seu senso criativo. Aos quinze anos, uniu-se ao Partido Social-Democrata Russo dos Trabalhadores, sendo preso várias vezes por atividades subversivas. Começou a escrever poesia enquanto preso numa solitária, em 1909. Já solto, frequentou a Escola de Arte de Moscou, ligando-se a Vladimir e David Burlyuk e outros artistas do emergente grupo futurista russo, tornando-se logo seu principal porta-voz.
Em 1920, o grupo publicou o manifesto Poshchochina obshchestvennomuvkusu (Um tapa na cara do agosto popular) e sua poesia ficou cada vez mais assertiva e desafiante, tanto na forma quanto no conteúdo. Seu drama Vladimir Maiakovsky foi apresentado em São Petersburgo em 1913 e causou escândalo.
Entre 1914 e 1916 completou duas poesias de maior importância, Oblako v shtanakh (1915) (Uma Nuvem de Calças) e Fleytapozvonochnik (1915, publicada em 1916) (A flauta de espinha).
Quando eclodiu a Revolução Russa (1917), estava apaixonadamente engajado aos bolcheviques e poesias como Oda revolutsi (1918) (Ode à revolução) e Levy March (1919) (A marcha esquerdista) tornaram-se muito populares, como também Misteriya-buff (Mistério Bufo), drama apresentado pela primeira vez em 1921, representando uma enchente universal e o subsequente triunfo dos "sujos" (proletariado) sobre os "limpos" (burguesia).
Vigoroso porta-voz do Partido Comunista, expressou-se de várias formas. De 1919 a 1921, trabalhou na Agência Telegráfica Russa como pintor de cartazes e cartoons, para os quais escrevia rimas, slogans inflamados e modernos. Escreveu torrentes de poesias panfletárias e criou textos didáticos para crianças enquanto palestrava e recitava por toda a nação.
Em 1924, compôs uma elegia de 3.000 linhas sobre a morte de Lenin. Depois de 1925, viajou pela Europa, Estados Unidos, México e Cuba, registrando suas impressões em poesias num livreto de histórias cáusticas: Moye otkrytie Ameriki (1926) (Minha descoberta da América). Escreveu roteiros para cinema e chegou a atuar em alguns filmes. Nos três últimos anos de vida completou duas peças satíricas: Klop (O percevejo-de-cama), encenada em 1929, criticando o tipo de filisteu que emergiu com a nova política econômica na União Soviética, e Banya (A Casa de Banho), apresentada em Leningrado a 30 de janeiro de 1930, paródia sobre a estupidez burocrática e o paranóico oportunismo do regime sob Joseph Stalin.
Saturada de significados sociais, porém, nem sua poesia ou toda a propaganda soviética podia abafar a sua necessidade emotiva pessoal, aparecida repetidas vezes e plenas de frustrações românticas. Isso parece com significância em duas poesias: Lyublyu (Eu amo) (1922) e Pro eto (Sobre isso) (1923).
Durante estada em Paris (1928), apaixonou-se pela refugiada Tatiana Yakovleva, com quem queria casar, mas que o recusou. Na mesma época, teve desentendimentos com a dogmática Associação Russa de Escritores Proletários e autoridades soviéticas.
Sua peça Banya também não fez sucesso. Desapontado no amor, cada vez mais alienado da realidade partido-partidária, e tendo um visto negado para viajar para ao exterior, passou a sofrer de terríveis crises de depressão, mas continuou sendo a figura mais dinâmica do cenário literário soviético. Suas invocações influenciaram vários poetas russos e estrangeiros, deixando forte marca, principalmente na década de 30, depois que Stalin declarou-o "o melhor e mais talentoso poeta de nossa época soviética".
Após concluir o poema "A plenos pulmões" e advertir a atual companheira, Nora, dos perigos de sua extrema depressão, suicidou-se na casa da praça Lubianka, em Moscou, dando um tiro no peito. Existe, porém, uma tese do jornalista russo Bronislav Gorb afirmando que Maiakovski teria sido morto a mando de Stalin.
De todo modo boa parte dos seus biógrafos concordam com a tese de suicídio. Em 2008 a Editora Record lançou a biografia "Maiakovski: o poeta da Revolução". Seu bilhete de despedida é o que segue abaixo:
"A todos
De minha morte não acusem ninguém, por favor, não façam fofocas. O defunto odiava isso.
Mãe, irmãs e companheiros, me desculpem, este não é o melhor método (não recomendo a ninguém), mas não tenho saída.
Lília, ame-me.
Ao governo: minha família são Lília Brik, minha mãe, minhas irmãs e Verônica Vitoldovna Polonskaia.
Caso torne a vida delas suportável, obrigado.
Os poemas inacabados entreguem aos Brik, eles saberão o que fazer.
'Como dizem:
caso encerrado,
O barco do amor
espatifou-se na rotina.
Acertei as contas com a vida
inútil a lista
de dores,
desgraças
e mágoas mútuas.'
Felicidade para quem fica.
Vladímir Maiakóvski
De minha morte não acusem ninguém, por favor, não façam fofocas. O defunto odiava isso.
Mãe, irmãs e companheiros, me desculpem, este não é o melhor método (não recomendo a ninguém), mas não tenho saída.
Lília, ame-me.
Ao governo: minha família são Lília Brik, minha mãe, minhas irmãs e Verônica Vitoldovna Polonskaia.
Caso torne a vida delas suportável, obrigado.
Os poemas inacabados entreguem aos Brik, eles saberão o que fazer.
'Como dizem:
caso encerrado,
O barco do amor
espatifou-se na rotina.
Acertei as contas com a vida
inútil a lista
de dores,
desgraças
e mágoas mútuas.'
Felicidade para quem fica.
Vladímir Maiakóvski
Algumas de suas poesias:
Hino ao crítico
Da paixão de um cocheiro e de uma lavadeira
Tagarela, nasceu um rebento raquítico.
Filho não é bagulho, não se atira na lixeira.
A mãe chorou e o batizou: crítico.
O pai, recordando sua progenitura,
Vivia a contestar os maternais direitos.
Com tais boas maneiras e tal compostura
Defendia o menino do pendor à sarjeta.
Assim como o vigia cantava a cozinheira,
A mãe cantava, a lavar calça e calção.
Dela o garoto herdou o cheiro de sujeira
E a arte de penetrar fácil e sem sabão.
Quando cresceu, do tamanho de um bastão,
Sardas na cara como um prato de cogumelos,
Lançaram-no , com um leve golpe de joelho,
À rua, para tornar-se um cidadão.
Será preciso muito para ele sair da fralda?
Um pedaço de pano, calças e um embornal.
Com o nariz grácil com um vintém por lauda
Ele cheirou o céu afável do jornal.
E em certa propriedade um certo magnata
Ouviu uma batida suavíssima na aldrava,
E logo o crítico, da teta das palavras
ordenhou as calças, o pão e uma gravata.
Já vestido e calçado, é fácil fazer pouco
Dos jogos rebuscados dos jovens que pesquisam,
E pensar: quanto a estes, ao menos, é preciso
Mordiscar-lhe de leve os tornozelos loucos.
Mas se se infiltra na rede jornalística
Algo sobre a grandeza de Púchkin ou Dante,
Parece que apodrece ante a nossa vista
Um enorme lacaio, balofo e bajulante.
Quando, por fim, no jubileu do centenário,
Acordares em meio ao fumo funerário,
Verás brilhar na cigarreira-souvenir o
Seu nome em caixa alta, mais alvo do que um lírio.
Escritores, há muitos. Juntem um milhar.
E ergamos em Nice um asilo para os críticos.
Vocês pensam que é mole viver a enxaguar
A nossa roupa brancos nos artigos?
(poema de 1915)
Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman.
___
A plenos pulmões
Primeira introdução ao Poema
Caros
camaradas
futuros!
Revolvendo
a merca fóssil
de agora,
perscrutando
estes dias escuros,
talvez
perguntareis
por mim. Ora,
começará
vosso homem de ciência,
afogando os porquês
num banho de sabença,
conta-se
que outrora
um férvido cantor
a água sem fervura
combateu com fervor. (1)
Professor,
jogue fora
as lentes-bicicleta!
A mim cabe falar
de mim
de minha era.
Eu — incinerador,
eu — sanitarista,
a revolução
me convoca e me alista.
Troco pelo "front"
a horticultura airosa
da poesia —
fêmea caprichosa.
Ela ajardina o jardim
virgem
vargem
sombra
alfrombra.
"É assim o jardim de jasmim,
o jardim de jasmim do alfenim".
Este verte versos feito regador,
aquele os baba,
boca em babador, —
bonifrates encapelados,
descabelados vates —
entendê-los,
ao diabo!,
quem há-de...
Quarentena é inútil contra eles —
mandolinam por detrás das paredes:
"Ta-ran-ten-n-n..."
Triste honra,
se de tais rosas
minha estátua se erigisse:
na praça
escarra a tuberculose;
putas e rufiões
numa ronda de sífilis.
Também a mim
a propaganda
cansa,
é tão fácil
alinhavar
romanças, —
Mas eu
me dominava
entretanto
e pisava
a garganta do meu canto.
Escutai,
camaradas futuros,
o agitador,
o cáustico caudilho,
o extintor
dos melífluos enxurros:
por cima
dos opúsculos líricos,
eu vos falo
como um vivo aos vivos.
Chego a vós,
à Comuna distante,
não como Iessiênin,
guitarriarcaico.
Mas através
dos séculos em arco
sobre os poetas
e sobre os governantes.
Meu verso chegará,
não como a seta
lírico-amável,
que persegue a caça.
Nem como
ao numismata
a moeda gasta,
nem como a luz
das estrelas decrépitas.
Meu verso
com labor
rompe a mole dos anos,
e assoma
a olho nu,
palpável,
bruto,
como a nossos dias
chega o aqueduto
levantado
por escravos romanos.
No túmulo dos livros,
versos como ossos,
Se estas estrofes de aço
Acaso descobrirdes,
vós as respeitareis,
como quem vê destroços
de um arsenal antigo,
mas terrível.
Ao ouvido
não diz
blandícias
minha voz;
lóbulos de donzelas
de cachos e bandos
não faço enrubescer
com lascivos rondós.
Desdobro minhas páginas
— tropas em parada,
E passo em revista
o "front" das palavras.
Estrofes estacam
chumbo-severas,
Prontas para o triunfo
ou para a morte.
Poemas-canhões,
rígida coorte,
apontando
as maiúsculas
abertas.
Ei-la,
a cavalaria do sarcasmo,
minha arma favorita,
alerta para a luta.
Rimas em riste,
sofreando o entusiasmo,
eriça
suas lanças agudas.
E todo
este exército aguerrido,
vinte anos de combates,
não batido,
eu vos dôo,
proletários do planeta,
cada folha
até a última letra.
O inimigo
da colossal
classe obreira,
é também
meu inimigo figadal.
Anos
de servidão e de miséria
comandavam
nossa bandeira vermelha.
Nós abríamos Marx
volume após volume,
janelas
de nossa casa
abertas amplamente,
mas ainda sem ler
saberíamos o rumo!
onde combater,
de que lado,
em que frente.
Dialética, não aprendemos com Hegel. Invadiu-nos os versos
Ao fragor das batalhas,
Quando,
sob o nosso projétil,
debandava o burguês
que antes nos debandara.
Que essa viúva desolada,
— glória —
se arraste
após os gênios,
merencória.
Morre,
meu verso,
como um soldado
anônimo
na lufada do assalto.
Cuspo
Sobre o bronze pesadíssimo,
cuspo
sobre o mármore, viscoso.
Partilhemos a glória, —
entre nós todos, —
o comum monumento:
o socialismo,
forjado
na refrega
e no fogo.
Vindouros,
Varejai vossos léxicos:
do Letes
brotam letras como lixo —
"tuberculose",
"bloqueio",
"meretrício".
Por vós, geração de saudáveis, —
um poeta,
com a língua dos cartazes,
lambeu
os escarros da tísis.
A cauda dos anos
faz-me agora
um monstro,
fossilcoleante.
Camarada vida,
vamos,
para diante,
galopemos
pelo qüinqüênio afora. (2)
Os versos
para mim
não deram rublos,
nem mobílias
de madeiras caras.
Uma camisa
Lavada e clara,
e basta, —
para mim é tudo.
Ao
Comitê Central
do futuro
ofuscante,
sobre a malta
dos vates
velhacos e falsários,
apresento
em lugar
do registro partidário
todos
os cem tomos
dos meus livros militantes.
[Dezembro, 1929/janeiro, 1930]
Vídeo:
Matéria em programa de TV sobre o poeta. (em inglês)
Galeria de fotos:
Coleção "Caderno Entrelivros Literatura Russa". Pela editora Duetto.
Excelente introdução ao poeta e recomendações de leituras.
Imagem interna da revista.
Busto do túmulo de Maiakóvski.
Lilia Brik e Maiakóvski.
Seu túmulo.
Bóris Pasternak (segundo a esquerda), Eisenstein (terceiro a esquerda), Lilya Brik e Maiakovski.
Funeral de Maiakovski, da esquerda pra direita: M. Faizinberg, V. Kataev, M. Bulgakov, Y. Olesha e Y. Utkin.
Monumento ao grande Maiakovski.
Foto do poeta após cometer suicídio.
Links recomendados:
Literatura russa: http://www.literaturarussa.com.br/