Jacques Rigaut

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(1898 – 1929).

"Eu serei uma grande morte!"



Poeta e agitador francês. Nasceu a 30 de dezembro de 1898, em Paris. Morreu a 9 de novembro de 1929 em Châtenay-Malabry.

Iniciou seus estudos em 1907, na École Montaigne (La petite école de Louis Le Grand), onde fez amizade com René Clair (René Chomette).

Em junho de 1915 prestou exame e foi promovido para a Escola de Filosofia, matriculando-se também em Direito. Alistou-se no exército, no 81° Regimento de Artilharia e ali permaneceu até o final da Primeira Guerra, de onde saiu em 1919 com a patente de subtenente.

De volta a Paris, rematriculou-se na Escola de Direito e começou a frequentar círculos literários, encontrando-se com Pierre Drieu la Rochelle (também suicida), Jean Cocteau (cujo pai se suicidara em 1898) e o pintor e escritor Jacques-Émile Blanche.

Em 1920 escreveu seus primeiros trabalhos: "Comentário sem Caráter", publicados na revista "Action" e idealizou a criação de uma sociedade, que, sob campanha, alegava ser de utilidade pública, chamando-a "Agência Geral de Suicídios".

Entrou em contato com membros do dadaísmo no outono e em dezembro um texto seu, "Serei sério..." foi publicado na 17ª edição de Littérature, a revista dadaísta parisiense, editada por Louis Aragon, André Breton e Philippe Soupault.

Em março de 1921 seu conto "História de um pobre homem jovem" apareceu em Littérature. Abriu a Exposição dadaísta, na qual foram destacadas várias demonstrações artísticas e anti-artísticas, fazendo uma apresentação e publicando seu texto "Fable" (Fábula) no catálogo da exibição.

Deixado de existir em 1923, o dadaísmo dispersou os artistas e Rigaut não se ligou ao grupo surrealista em processo de formação, ausentando-se do círculo literário avant-garde para se devotar a uma existência mundana.

Em 1924 conheceu Gladys Barber, riquíssima americana em processo de divórcio e realizou com ela sua primeira viagem ao EUA, indo a Nova York no começo do ano e lã vivendo miseravelmente, enquanto frequentava os círculos elegantes.

A 15 de janeiro de 1926 casou-se com Gladys, passando a lua-de-mel em Palm Beach, onde ela insistiu em lhe dar um carro Rolls-Royce, que ele, obstinado, recusou-se a aceitar. O casamento terminou em fracasso e no ano seguinte ela o deixou em Nova York, em condições materiais difíceis e cada vez mais viciado em heroína e no álcool. Em novembro, decidiu repentinamente voltar à França.

Ali, em 1929, realizou infrutíferas tentativas de desintoxicação nas clínicas de La Malmaison e Saint-Mandé e em outubro internou-se noutra clínica em Châteny-Malabry onde, na manhã de 6 de novembro de 1929, deitou-se num leito previamente arranjado e se suicidou com um tiro no coração.

Ele está enterrado no Cemitério de Montmartre. Seu suicídio inspirou a Drieu La Rochelle em seu livro: "Le Feu Follet".


Fragmentos de obra:


"A primeira vez que eu me matei foi para irritar minha amante. Aquela criatura virtuosa bruscamente se recusou a dormir comigo, dizendo que ela foi dominada pelo remorso de enganar seu amante número um. Eu realmente não sei se eu a amava, eu suspeito que uma quinzena longe dela teria diminuido a necessidade que eu tinha dela; mas sua recusa me irritou. Como voltar para ela? Eu disse que ela manteve uma profunda e duradoura ternura por mim? Eu me matei para irritar a minha amante. Perdoem meu suicídio tendo em consideração minha extrema juventude à época dessa aventura.

A segunda vez que eu me matei foi por preguiça. Pobre, e tendo um horror antecipado por todo trabalho, um dia eu me matei, sem convicção, como eu havia vivido. Eles não sustentam esta morte contra mim quando eles veem como eu estou prosperando hoje.

Pela terceira vez... Pouparei você os detalhes dos meus outros suicídios, desde que você concorde em ouvir este: eu tinha acabado de me deitar depois de uma noite em que meu tédio não tinha sido mais opressivo do que qualquer outra noite. Tomei uma decisão e, ao mesmo tempo, lembro-me claramente que eu articulei a única razão: e então pronto! Levantei-me para procurar pela única arma em casa, um pequeno revólver que um de meus avós tinha comprado e que estava carregado com balas igualmente velhas. (Você verá em um momento por que sublinho este detalhe). Deitado nu na minha cama, eu estava nu no quarto. Estava frio. Enterrei-me às pressas sob os cobertores. Eu engatilhei o martelo, eu podia sentir o frio do aço na minha boca. Nesse momento eu provavelmente conseguia sentir meu coração batendo, assim como podia senti-lo bater da mesma forma que ouvia o apito do projétil antes de explodir, como se estivesse na presença de algo irrevogável, mas ainda não consumado. Eu apertei o gatilho, o martelo engatilhou, mas não disparou. Então coloquei a arma em uma pequena mesa, provavelmente rindo um pouco nervosamente. Dez minutos depois, eu estava dormindo. Acho que só fiz um comentário bastante importante. O que era mesmo? Naturalmente! Desnecessário dizer que não pensei nem por um instante em dar um segundo tiro. O que importava, era ter tomado à decisão de morrer, e não que eu morresse."


Excerto extraído da Obra "Écrits" de Jacques Rigaut, Ed. Gallimard, 1970 [trad. Renato F. Canova]

*

Agencia general de suicidio

La autodestrucción como acto de fe,
como bandera,
como norte total e inexcusable,
como justa rebelión,
como protesta,
como arma letal contra uno mismo,
como risa final,
como método justo de vaciarse,
como máscara o pose –que es los mismo–,
como efecto aceptado, irreversible,
como par de la vida,
como guerra interior no declarada,
como peligro urgente y necesario,
como razón del justo y el tirano,
como expresión moderna y muy en boga,
como lucha interior introspectiva,
como forma de crítica al sistema,
como terapia absurda y consecuente,
como remedio justo contra el cáncer,
como claudicación,
como mordaza,
como final también,
como principio...

Como negocio, en fin,
seguro y cierto.

Se admiten asociados
en cómodo sistema de franquicia
o accionistas solventes sin escrúpulos.

****

"La gente no sabe lo que se dice. No hay ninguna razón para vivir, pero tampoco la hay para morir. La única manera que se nos concede para atestiguar nuestro desdén por la vida es aceptarla. La vida no merece la pena que nos tomemos el trabajo de abandonarla. (...)"

"(...) Acabo de acostarme, después de una velada donde mi aburrimiento no había sido más asediante que el de otras noches. Tomé la decisión y, al mismo tiempo, lo recuerdo muy claramente, articulé la única razón: ¡Y luego, zás! Me levanté y fui a buscar la única arma de la casa, un pequeño revólver comprado por uno de mis abuelos, cargado de balas tan viejas como él. (En seguida se comprenderá por qué insisto en este detalle.) Durmiendo desnudo en la cama, estaba desnudo en mi habitación. Hacía frío. Me apresuré a esconderme bajo las mantas. Levanté el percusor, sentía el frío del acero en mi boca. Es verosímil que en aquel momento sintiera latir el corazón, como lo sentía latir al oír el silbido de un obús antes de que explotara, como en presencia de lo irreparable antes de consumarse. Apreté el gatillo, el percusor bajó, el tiro no había salido. Entonces dejé el arma sobre una mesita, probablemente riendo algo nerviosamente. Diez minutos después, dormía. Creo que acabo de hacer una observación bastante importante, tanto que... ¡naturalmente! Es lógico que ni durante un instante pensara en disparar una segunda bala. Lo que importaba, era haber tomado la decisión de morir, y no que muriese."

Frases:

"Só há progresso, descoberta, na direção da morte."

"A vida não vale que as pessoas se deem o trabalho de a deixar." (disse, ainda que mais tarde viesse a cometer suicídio)

"Meu livro do lado da cama, é como um revólver".


Galeria de fotos:

                  





J. Rigaut e o grupo dadaísta.

                    


Rigaut em pose sorrindo.

Grupo dadaísta. (Rigaut de cabeça para baixo). 

Dadaístas. 

Rigaut, Tzara e Breton.


"Je serai un grand mort"

 Sepulcro de Jacques Rigaut.





Links Recomendados:

Sobre o movimento dadá (em inglês): http://www.ieeff.org/paris.html