Candelabro aceso para Sylvia Plath
(1932 - 1963)
(1932 - 1963)
"O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Vermelho, caldeirão da manhã."
"Morrer é uma arte, como tudo o mais. Que eu pratico surpreendentemente bem".
Poeta norte-americana. Nasceu em Boston, Massachusetts a 27 de outubro de 1932. Morreu em Londres, a 11 de fevereiro de 1963.
Durante a mocidade viveu uma vida plena de rigores castradores e repressivos do pai, o que lhe deixou traumas e um caminho amargo para sua poesia demonstrada depois em "Daddy".
Estudou nos EUA e aos vinte anos publicou seu primeiro texto numa revista de Nova York. Meses depois, tentou o suicídio.
Foi para a Inglaterra a estudos, onde (1956) se casou com o poeta inglês Ted Hughes (1930 - 1998), contudo, o relacionamento pareceu tempestuoso e ela acabou tentando o suicídio outra vez.
Em 1959 conheceu a também poeta Anne Sexton. Em 1960, lançou seu primeiro livro de poesias, "Colossus", e teve o primeiro filho (Frieda) e, dois anos depois, o segundo (Nicholas). Em 1963, escreveu a novela autobiográfica "The Bell Jar", sob o pseudônimo de Victoria Lucas, e "Ariel", publicado postumamente (1965).
Com o tempo e a rotina, descobriu o envolvimento do marido com outra mulher, Assia Gutman, que depois se suicidaria.
Separada, viveu em Londres na solidão, anonimato e miséria. Em fevereiro de 1963, deixou bilhete a seu terapeuta (Dr. Horder) e se suicidou, pondo a cabeça dentro do forno, com gás ligado. Antes, teve o cuidado de vedar a porta do quarto dos filhos. A seguir, através do livro "The Savage God - a study of suicide", do crítico inglês Alfred Alvarez (1929 - ), sua obra foi descoberta com sensação pelo mundo anglo-saxão.
Após a morte, seu espólio tornou-se domínio da irmã de Ted Hughes, Olwyn, que ficou responsável pela parca divulgação dos trabalhos, dizendo proteger os sobrinhos e o irmão. Porém, em 1998, pouco antes de morrer, Hughes resolveu publicar seu "Birthday Letters" e os diários da poeta, que são vistos como uma das grandes descobertas literárias do século.
Alguns críticos chegaram a apontar o marido de Sylvia Plath como responsável pelo desespero que culminou com seu decisão final. Uma amante de Ted, Assia Wevill, também se matou, não poupando sequer a filha dos dois, que também pôs fim.
Em 2009, quarenta e seis anos depois da morte da poeta, seu filho Nicholas Hughes também cometeu suicídio.
The Colossus, 1960
The Bell Jar, 1963
(pseudonym Victoria Lucas)
Harper and Row, 1971
(edition apparently contains drawings by Plath and a Biographical Note by Lois Ames)
Ariel, 1965
Crossing the Water, 1971
Winter Trees, 1971
Letters Home:
Correspondence, 1950 - 1963
Ed. with commentary by Aurelia Schober Plath, 1975
The Bed Book, 1976
Johnny Panic and the
Bible of Dreams, 1977
Algumas poesias de Sylvia Plath:
ARIEL
Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
Leoa do Senhor como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco
Afunda e passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...
Negro, doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo
Me arrasta pelo ar...
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.
E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança
Escorre pela parede.
E eu
Sou a flexa,
O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Vermelho, caldeirão da manhã.
(tradução de Ana Cândida Perez e Ana Cristina César)
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40 GRAUS DE FEBRE
Pura? Que vem a ser isso?
As línguas do inferno
São baças, baças como as tríplices
Línguas do apático, gordo Cérbero
Que arqueja junto à entrada. Incapaz
De lamber limpamente
O febril tendão, o pecado, o pecado.
Crepita a chama.
O indelével aroma
De espevitada vela!
Amor, amor, escassa a fumaça
Rola de mim como a echarpe de Isadora, e temo
Que uma das bandas venha a prender-se na roda.
A amarela e morosa fumaça
Faz o seu próprio elemento. Não irá alto
Mas rolará em redor do globo
A asfixiar o idoso e o humilde,
O frágil
E delicado bebê no seu berço,
A lívida orquídea
Suspensa do seu jardim suspenso no ar,
Diabólico leopardo!
A radiação faz que ela embranqueça
E a extingue em uma hora.
Engordurar os corpos dos adúlteros
Tal qual as cinzas de Hiroshima e corroê-los.
O pecado. O pecado.
Querido, a noite inteira
Eu passei oscilando, morta, viva, morta, viva.
Os lençóis opressivos como beijos de um devasso.
Três dias. Três noites.
água de limão, canja
Aguada, enjoa-me.
Sou por demais pura para ti ou para alguém.
Teu corpo
Magoa-me como o mundo magoa Deus. Sou uma lanterna —
Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele de ouro laminado
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa.
Não te assombra meu coração. E minha luz.
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros.
Creio que vou subir,
Creio que posso ir bem alto —
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu
Sou uma virgem pura
De acetileno
Acompanhada de rosas,
De beijos, de querubins,
Do que venham a ser essas coisas rosadas.
Não tu, nem ele
Não ele, nem ele
(Eu toda a dissolver-me, anágua de puta velha) —
Ao Paraíso.
(tradução de Afonso Félix de Souza)
Galeria de fotos:
Ted Hughes e Sylvia Plath.
Ted Hughes e Sylvia Plath.
Ted Hughes e Sylvia.
Sylvia Plath e seu filho Nicholas Plath.
Após o seu suicídio.
Nicholas Hughes (1962 - 2009)
Filho da poeta, Nicholas levou a mão sobre si em 2009 após
longa luta contra da depressão.
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Edição de poesias de Sylvia Plath: "Ariel".
Link Recomendado:
Filme:
"Sylvia - Paixão além das palavras".
"The Bell Jar", baseado no romance homônimo de Sylvia.